segunda-feira, 30 de junho de 2008

Éfeso


Biblioteca de Éfeso.

Passaram muitos anos desde que visitei a Turquia. Foi uma viagem pela memória da Ásia Menor, onde emergiu a cultura helénica.
Ainda recordo a emoção sentida nesse espaço marcado por grandes nomes da filosofia, da ciência, da literatura e da história da Antiguidade. Agradou-me, de modo particular, Éfeso, cidade da Jónia.http://www.google.pt/efeso(cidade).
Lembrei as vicissitudes políticas. Guerras Pérsicas, conquista de Alexandre Magno e desagregação do seu Império. E a passagem dos reinos helenísticos para o domínio romano.
Em torno do Mediterrâneo, mare nostrum como lhe chamaram, criou-se o Império Romano. Força e poderio daqueles que, tendo sido "conquistadores foram conquistados (culturalmente) pelos vencidos." Era o que pensava, enquanto caminhava pela cidade.
Éfeso, a "desejável", tem o mar a seus pés e por esse mar circularam pessoas e mercadorias que fizeram da cidade uma das mais apetecíveis da sua época.
Actualmente, em ruínas; outrora gozava a animação de casas, de lojas e armazéns, de bordeis e termas. Esplendor do quotidiano de moradores e visitantes, onde sobressaía a monumental Biblioteca (construída no tempo de Adriano) e o famoso Templo de Artemísia (em ruínas). E, mais além, o grande Teatro com deslumbrante vista para o mar.
Por tudo isto, julgo que nem o mais distraído escapa ao sentimento de paz e tranquilidade que a entrada no Teatro suscita! Espaço grandioso que, comportando cerca de 25000 pessoas, acolheu a mensagem do cristianismo pela voz de S. Paulo...

Hoje, passados cerca de 2000 anos, a envolvência do espaço permanece. Numa palavra, Éfeso guarda o fascínio de muitas cidades da Ásia Menor: reminiscências de voluptuosidade, traços das artes mágicas de sábios antigos e ainda a espiritualidade do Cristianismo dos primeiros tempos...
Vale a pena voltar, ainda que só pela via da memória!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Versailles





Versailles, símbolo do poder, do prazer e da luz ...do Rei-Sol!
Desse espaço, deixo as imagens possíveis... E muito há para ver em Versailles, desde os jardins ao interior do "palácio-castelo", onde Luís XIV controlava os cortesãos, exercendo a sua função de Rei absoluto...
Aconselho a leitura de A Alameda do Rei, de Françoise Chandernagor, um romance histórico que nos introduz no quotidiano da corte do Rei-Sol. Gostei muito, embora reconheça que, por vezes, possa tornar-se um pouco secante. Passou há anos uma série na RTP2, baseada no livro, francamente boa.
E, já agora, registo outras hipóteses. De Roberto Rosselini, A tomada do poder por Luís XIV, filme já antigo, mas também muito bom pelo rigor histórico...
Para uma visão mais rápida e económica, basta ir ao youtube ou ao google e procurar Le Roi danse..., filme de G.C., cineasta belga (2000). O argumento baseia-se na biografia de Jean-Batiste Lully, o músico da corte de Luís XIV...Uma maravilha!

Galeria dos Espelhos

Vale a pena visitar Versalhes, agora que a Galeria dos Espelhos sofreu obras de restauro. A France Press, de 25 de Junho, conta como foi possível.

As pinturas recuperaram suas cores originais, as molduras o dourado, os bronzes o brilho: ao final de uma gigantesca obra de restauro, a Galeria dos Espelhos, jóia do Palácio de Versalhes (próximo a Paris), recuperou o esplendor dos velhos tempos.
Pela primeira vez desde a sua construção em 1684, a célebre Galeria foi objecto de um restauro "do chão até o tecto", descreve Fréderic Didier, arquiteto chefe dos monumentos históricos franceses, que coordenou os trabalhos.
A obra durou três anos. Levámos tanto tempo para restaurar a galeria quanto Charles Le Brun levou para pintá-la", afirma. As obras custaram 12 milhões de euros, financiados por meio do mecenato.

A Galeria restaurada foi inaugurada nesta segunda-feira pela ministra francesa da Cultura, Christine Albanel. O público, que podia visitar o espaço durante as obras, poderá agora ver o resultado final do restauro a partir desta quarta-feira.
A Galeria dos Espelhos, originalmente chamada de Grande Galeria, deve seu nome aos 357 espelhos que adornam suas paredes - emblema do Castelo de Versalhes, representa uma homenagem à glória de Luís XIV, da supremacia militar à boa governação do Reino. Com 73 metros de comprimento por 13 de largura, foi construída por Jules Hardouin-Mansart entre 1678 e 1684.
A enorme sala "recuperou seu esplendor, conservando ao mesmo tempo os vestígios do tempo que passa", descreve Didier. "Limpámos e restaurámos, mas não era nosso papel refazer as coisas parecerem novas".

Durante as obras, cuja fase de documentação levou um ano, além dos três de trabalhos, participaram 40 restauradores.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Cai neve em Coruche





Não se trata de um milagre, aconteceu no dia 29 de Janeiro de 2006. Mas agora, nestes dias de calor intenso, a neve apetecia mesmo...
E se cá nevasse, fazia-se cá ski..., aqui ou noutro sítio qualquer!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Botafumeiro




Botafumeiro, isto é, o turíbulo gigante da Catedral de Santiago de Compostela.
Tive a sorte de assistir, duas vezes, a esta cerimónia-espectáculo. E sempre com o mesmo espanto que, julgo, correspondia ao sentir de todos os presentes!...

Festas de S. João


"O Santo António já se acabou..." e eis que chegámos ao S. João.
Noite de arraial, um pouco por todo o país. Muita folia, especialmente no Porto. Mas já o tempo fez cara feia e a festa perdeu a graça. Partida de S.Pedro!.....

Nunca entendi muito bem como se coaduna a figura austera de S. João Baptista com a folia destas festas! O Santo, coberto com peles, sofrendo a fome e a sede no deserto...a penitência em constraste com os folguedos populares com martelinhos, dança, comida e algum alcool...
Existe, todavia, uma outra representação do Santo, a de menino com ar doce. Era esta a imagem que via emoldurada nas feiras e que, mais tarde, identifiquei como cópia do S. João de Murillo...

E enquanto lá fora, segue o arraial com a música bem alto, "apita o comboio" da conhecida gravação, fiquei para aqui divagando!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Arrumador de automóveis


Arrumadores, não gosto de arrumadores... e toda a gente sabe porquê! Pedincham uma moedinha por um trabalho que, na maior parte das vezes, não existe. Resmungam se acham reduzida a gorgeta e, se nada lhe dermos, atiram com uma ameaça!...

Pois é, concordo em absoluto! Mas, às vezes, tornam-se providenciais. No domingo achei um destes, na Rua de D. Pedro V, ao procurar um lugar para estacionar. E, de imediato, o meu arrumador apontou um espaço amplo e fresquinho, como convém nestes dias de Verão!

Atravessando a rua, reparei num outro lugar e, logo prontamente, ele explicou: "Pus aqui um caixote , mas este (lugar) é ao Sol!" E assim, fiquei rendida a estes "novos arrumadores" que sabem muito do seu ofício e desenvolvem estratégias perfeitas para viver...
São vidas que, individualmente, não podemos modificar!

Tosquiador


O rótulo "vias de extinção" aplica-se não só às espécies, mas também aos ofícios tradicionais.
No Global, publicação de distribuição gratuita, conheci um tosquiador. Um dos poucos que ainda existe na região da Guarda. Conta 77 anos de vida, passada entre vários ramos de actividade: pastor, lavrador, sapateiro e emigrante em França.

Actualmente, trabalha só para os amigos. Fala com orgulho do "mérito das suas tesouras" com que retira a lã das ovelhas; uma tarefa que dura de 30 minutos a uma hora, tudo depende do tipo de tosquia. E deleita-se o Ti Zé na perfeição das "ramagens", isto é, nos desenhos pormenorizados com que enfeita o dorso das suas ovelhas.
Embora, apreciadora das coisas bonitas, apetece-me dizer ao velho tosquiador que é tempo de parar com tais enfeites. Já reparou no sofrimento dos pobres animais, atados pelas quatro patas, enquanto esboça e corta as "suas ramagens"?
Da tosquia de outrora, guardo ainda a imagem dessas ovelhas que, sem um ai, olhavam para nós! Por isso, aconselho a simplificação, reduzindo esse trabalho ao essencial!
Nem sempre o progresso é mau!

Brasil dos grandes cantores




Dois monstros sagrados da música do Brasil!

sábado, 21 de junho de 2008

O mais rico do Brasil...


A capacidade de convencer investidores do potencial dos seus projectos é a característica mais marcante do homem mais rico do Brasil. Na sexta-feira 13, Eike Batista, 51 anos, atraíu os holofotes ao arrecadar 2,5 mil milhões de euros durante a dispersão em bolsa (IPO) da sua empresa petrolífera, a OGX, sem nenhuma reserva de petróleo confirmada. Na final da passada semana, a operação já tinha rendido 13 mil milhões de euros.
O sucesso do empresário, que criou empresas com nomes terminados com a letra X e só efectua transacções comerciais que contenham o número 63, deve-se, segundo a o próprio, ao "alinhamento dos astros". Supersticioso e excêntrico, nem sempre teve a sorte do seu lado. (...)

No entanto, no universo das bolsas de valores, o magnata carioca é conhecido pelo "efeito Eike". O mesmo é dizer que todos os movimentos são acompanhados de perto pelos grandes investidores. EIke ocupa o 142º lugar no "ranking" da "Forbes" e a sua fortuna está estimada em 4,2 mil milhões de euros. O suficiente para viver numa mansão de 3500 metros quadrados com vista para o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, ter um Mercedes de 1,2milhões de euros como peça de mobiliário numa das salas da mansão e brindar a cada novo contrato com champanhe, no jardim.

Mesmo ostentando o estatuto de multimilionário, Eike Batista leva um avida dentro da normalidade. Adormece cedo e vê televisão na cozinha com os empregados. Na sexta-feira, depois da entrada em Bolsa da OGX, comemorou com os trabalhadores da empresa numa padaria, com café, leite, pão e manteiga. Nas paredes de casa, Eike não pendura valiosas obras de arte, prefere uma cópia perfeita a gastar milhões em originais.


Cristina Pombo, Expresso, 2008, 21 de Junho, pg. 42.

Nota: Atenção a este original multimilionário, supersticioso e, pelo exemplo referido, com poucos escrúpulos... Vejamos, o que o futuro lhe reserva!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Portinari


Quando o nervosismo nos invade, o melhor refúgio será a arte...
Agora a selecção portuguesa joga com a Alemanha, perdendo por 2-1 no final da primeira parte. Marcou Nuno Gomes. E depois, qual será o resultado?
Procurei Portinari e aqui fica um pouco desse grande artista do modernismo brasileiro. Quem quiser, pode clicar em http://casadeportinari.com.br/ e fica a saber muita coisa!...

Loura e bela


Quase todos simpatizam com ela. Loura e bela, continua a atrair toda a gente...
Falo, claro, da cerveja que, nos últimos tempos, tem sido consumida a rodos!..
Há muitos dias que, pelas gargantas dos adeptos de futebol, correm litros e litros desta bebida. Apreciam-na pela frescura e sabor, ligeiramente áspero, que deixa na boca. Se bebida em moderação só traz benefícios, mas já em excesso conduz a um estado deplorável...
Os suíços mantém-se atentos ao comportamento dos visitantes. Todavia, não estavam preparados para uma ocorrência pacífica e, mais ou menos discreta, dos adeptos do Europeu. É que tanta ingestão de cerveja provoca a libertação de um líquido, também amarelo, mas de cheiro incomodativo...
E assim, todas as noites, os serviços de limpeza lavam ruas e paredes e, logo no dia seguinte, repetem os mesmos gestos!...
Por esta não esperavam os fleumáticos suíços, uma inusitada consequência do Europeu de Futebol. Quem podia imaginar!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Superlativos




Quem não conhece pessoas exageradas?
De todas as idades, de todas as condições sociais e de todos os tempos... Falam como são, um tanto nervosas atiram tudo para a "máxima expressão". Para elas não existe meio-termo, tudo ou nada!
A Mariana diz, toda a hora, espectacular e nesse rótulo cabem pessoas e coisas. Acho-lhe graça e acompanho as descrições, ouvindo e rindo... Ela não percebe e ainda bem!
Lembrei-me disto, porque estou a ler uma pequena obra-prima de Machado de Assis, um dos grandes autores brasileiros (juro que não exagero!), exímio na descrição de personagens. Retratos que nos fazem sorrir, onde ressalta de uma fina ironia o barroquismo das suas expressões e modo de ser. Transcrevo uma dessas passagens que o Autor apelidou Amaríssimo, mas que bem podia ser Superlativo...

José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não os havendo, servia a prolongar as frase. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi um dos últimos a usar que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez no mundo. (...) Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagaroso arrastado dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da consequência, a consequência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!

Machado de Assis, Dom Casmurro

terça-feira, 17 de junho de 2008

Trondheim e Costa Nova

















Portugal e Noruega, algo semelhante em duas realidades culturais distintas. Em ambos os casos, a simplicidade e a beleza de espaços onde apetece sentir o mar!

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Saraband



Música para repousar! sarabanda, repetição que traz paz e harmonia...em busca do infinito.

sábado, 14 de junho de 2008

Vieira da Silva


O mês de Junho está recheado de efemérides.
Eu, que sempre gostei de História, habituei-me a fixar datas. Não uma memorização cega, mas por associação de ideias, ligadas a acontecimentos ou pessoas do passado ou do presente. E assim, por exemplo, registava: o Jorge faz anos a 6 de Junho, o dia do desembarque na Normandia, a Maria José festeja o aniversário a 7 de Novembro e, logo, anexava o "ficheiro" da revolução russa...

Era tal a mania que, no 7º ano, as minhas amigas de Colégio gozaram com isso no livro de final de curso... Não me arrependo, considerando que as datas funcionam como cabides de arrumação de acontecimentos!

Pois, regressemos ao mês de Junho, ao dia 13. Passam 120 anos desde o nascimento de Fernando Pessoa e, caso fosse viva, Maria Helena Vieira da Silva festejava os 100 anos. E querendo continuar nas efemérides, devo registar os 50 anos da morte de Vasco Santana.
Personalidades relevantes e das quais muito haverá para dizer. Fixo-me, por agora, em Maria Helena Vieira da Silva e na crónica que José Manuel dos Santos assina na Actual do Expresso. Um encontro muito revelador acerca da personalidade da pintora lisboeta e não só... Aconselho, pois, a leitura!
No entanto, não resisto à citação de um desabafo da Artista: "As palavras são como as cores: já há muitas no mundo!". Pois! Quão rara é a capacidade criativa para combinar harmonicamente as palavras e as cores... E como ela sabia fazê-lo!...
Por isso, em homenagem ao seu poder criativo, aqui fica a publicação de uma das suas telas. Espero que, no além, aplauda a minha escolha!...

Pina Martins




Os livros vão sempre ao encontro de quem os ama, assim justificava o Professor Pina Martins o valioso acervo da sua Biblioteca. Livros preciosos e raros, reunidos ao longo da vida, e que ele muito amava. Tinha-os por perto, num andar do prédio onde morava, e para aí subia diariamente para os admirar e estudar.
Aí, o Professor transfigurava-se, tal como se fosse um humanista do Renascimento. Tocava os livros com delicadeza, acariciava-lhes a lombada e relia excertos... Cena comovente quando visitei, com outros colegas em 1990, esse espaço na Avenida Marquês de Fronteira...
Para cada livro havia uma história recheada de pormenores, fosse quanto ao modo de aquisição, fosse a respeito do conteúdo da obra e do autor ou do editor. A erudição do Professor Pina Martins esmagava-nos, dada a subvalorização dos estudos humanísticos.
Um artigo do Expresso, de ontem, refere a aquisição da Biblioteca pelo BES, por 800 mil euros, um preço inferior ao seu real valor, mas que servirá para custear as despesas de saúde do Professor. Desta vez, segurou-se um património que se temia ir parar algures, ao estrangeiro.
O Professor Pina Martins marcou uma geração de alunos da FLL nos anos 60. Assistente do Padre Manuel Antunes, leccionava as práticas de História da Cultura Clássica. Esmagava-nos com as edições dos clássicos e, muitos alunos chamavam-lhe "O Incunábulo".
Pessoalmente, tive ainda duas outras cadeiras com o Professor: História da Civilização Grega (cadeira semestral) e História da Cultura Portuguesa.
Dessas aulas práticas, recordo a análise dos Poemas Homéricos, particularmente a Ilíada. Aos 18 anos, mal podíamos apreciar a emoção com que o Professor discorria acerca de Aquiles, "dos pés ligeiros", ou do périplo de Ulisses. Mas gostávamos das aulas que tentávamos acompanhar com o apoio de uma reduzida bibliografia em português. Retenho Os Gregos, de Kitto, obra (que releio sempre com prazer) essencial para a compreensão dos Poemas. Já em Cultura Portuguesa lembro a análise de Camões e da obra de Sá de Miranda, tema em que o Professor dominava com mestria.
Simples registo do tempo em que fui aluna do Professor, o qual hei-de sempre recordar!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Santo António

Atrevo-me a dizer que Santo António é, entre todos os santos, o mais popular. Chamemos-lhe de Lisboa ou de Pádua, tanto faz, os seus devotos estão em toda a parte...
A fama de casamenteiro colou-se-lhe para sempre; a ele recorre todo o que pretende arranjar noivo ou resolver problemas da vida conjugal. Mas os dotes do Santo vão muito para além disso, já que atende todas as causas difíceis.
Por mim, invoco-o muitas vezes. Sempre que calha perder alguma coisa, rezo ao Santo e ele não tarda a responder. Devoção antiga que conhecia à minha Avó, mas que nunca levei a sério até do dia em que visitei Pádua!

Lisboa festeja o 13 de Junho, promovendo os chamados "Casamentos de Santo António", uma tradição que já leva cinquenta anos. Ontem, vi na RTP um desses casais que festeja as bodas de ouro. E foi enternecedor recordar esses tempos de namoro e as prendas oferecidas, em 1958, pelos comerciantes da cidade.
À providência do Santo ficava (e fica) a dever-se o dote que bem necessário é....

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Partir


Há muitas formas de partir... em todas elas, está sempre a ausência de alguém. E para todos os casos haverá remédio, diz o povo, excepto para a morte.
Separação definitiva, a da morte, condenados que somos a viver só da imagem do nosso familiar, do nosso amigo ou daquela figura pública que admirámos... Morte inesperada ou morte anunciada por uma doença prolongada! Em qualquer situação, sempre chocante.

No âmbito das relações pessoais, tal como na Natureza, a morte toca-nos por ciclos. Aconteceu assim neste fim de semana. Começou com a notícia da morte de um amigo meu, cuja doença desconhecia. Por isso, fiquei extremamente chocada. Foi um cancro no pâncreas que, em menos de três meses, o levou. Até lá, sofreu em silência e, só três dias antes, revelou o seu estado à mulher. Resistiu de forma heróica, ao ponto de se ter deslocado, pelo seu pé, ao laboratório de análises no dia da sua morte.
Depois, foi a M. que partiu, vítima de Alzheimer. Acabou subitamente, ao jantar, sentada à mesa. Felizmente, foi poupada a sofrimentos maiores.
Hoje, outra notícia triste. A morte de uma antiga professora que, desde há muito, aguardava este dia. Sofreu muito, há meses que não falava, mal se alimentando. Mais um caso de cancro.

E agora, quando procurava as notícias do dia, deparei com a situação de uma figura pública do meu imaginário de juventude, Paul Newman. Também sofre de cancro, desconhecendo-se qual a espécie. Luta contra a doença há dezoito meses. Conta 83 anos, oxalá que sofra pouco.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Morrer de Alzheimer


A doença de Alzheimer é um dos meus grandes medos. Doença degenerativa que, lenta e progressivamente, vai destruindo as células do cérebro, os neurónios que não têm a capacidade regenerativa, como noutros casos. Uma vez destruídos, não há substituição. Numa palavra, é uma doença incurável.
Manifesta-se pela perda de memória de factos recentes, dificudade na execução de actividades domésticas e manuais, desorientação e, em geral, na dificuldade de fazer cálculos. Verifica-se uma progressiva perda de capacidade de raciocínio e da fala, às quais se junta uma série de alterações de comportamento. Apatia, alucinações, delírios e crises de agitação repetem-se. E como consequência, o doente desenvolve uma relação de conflitualidade com os familiares e prestadores de cuidados médicos.
Não existem certezas quanto às causas da doença. Há quem fale numa tendência hereditária, mas ainda sem provas concludentes.
A doença evolui por surtos. A perda de capacidade cognitiva surge associada à perda de peso que, levando a um estado de debilidade extrema, diminui o sistema imunitário. E muitas vezes, o paciente acaba por morrer de uma qualquer patologia infecciosa.
Muito tem evoluído a medicina e hoje já se prescrevem medicamentos para retardar a doença. Fala-se também nos efeitos preventivos da aspirina e sugere-se ainda uma alimentação adequada. Por enquanto, mais hipóteses do que certezas.
Muitos associam a depressão à doença de Alzheimer. Depressão vivida antes dos 60 anos e, mais penalizadora ainda, se acontece depois dos 65 anos. E eu que, não tenho qualquer base científica, considero este factor determinante. Assim é em todos os casos de Alzheimer que conheço.
Ontem foi a enterrar uma amiga minha vítima de Alzheimer. Conheci-a no dia 1 de Outubro de 1972, criámos laços de grande amizade pessoal e um óptimo relacionamento a nível de trabalho. Muito inteligente e perspicaz, foi uma profissional brilhante que deixa saudades em todos os que com ela privaram. Até há pouco mais de ano e meio, nunca soubemos interpretar os sinais da doença. Então, era tarde demais! Hei-de recordar a sua imagem no passado e nunca a pessoa dos últimos tempos. Visitei-a, pela última vez, no dia 22 de Maio. Muito magra, parecia, no entanto, bastante lúcida. Vou sentir muito a sua falta!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Araucária



No dia do dia ambiente, sobram muitos conselhos para preservar a Terra. O lema dos três Rs. e tantas outras práticas para salvaguardar os recursos da Natureza. Por mim, fico-me pela evocação da araucária.
A Natureza através de uma árvore de grande porte que todos os anos sobe mais "um andar", podendo atingir muitas dezenas de metros. Mas esta não é uma qualquer espécie. É a araucária que avisto da minha janela. Despontou, entre o casario, e cresce, cresce muito. Conheço-a há alguns anos e, por curiosidade, procurei o local onde foi plantada...por mãos cuidadosas.
E, hoje, dei-me conta que a sua presença funciona como observador atento. Quantas gerações coexistem na sua vizinhança e quantas outras hão-de passar no futuro! E essa guardiã do tempo que passa, a araucária que, cada ano, sobe mais e mais, há-de um dia também assistir à minha partida!
Testemunhas da História, as árvores resistem mais do que o homem, algumas vivem centenas de anos e muitas chegam a contar milénios. A propósito, lembro-me das oliveiras que vi em Jerusalém. De tronco carcomido, ramaria escassa , mas que, por certo, encerram a vivência de muitos segredos... no chamado "Jardim das Oliveiras"!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sabedoria popular


Gosto de poesia popular. Quase sempre, uma expressão irónica e divertida de uma verdade que os mais sábios não souberam ou não quiseram assumir.
Da memória desses camponeses recolhi algumas quadras que, outrora, foram cantadas no trabalho ou em dias de festa.

Não te rias de quem chora
Que é mal que Deus ordena
Pode a roda desandar
E tu cais na mesma pena!

Lá no céu vai uma nuvem
Todos dizem: bem a vi!
Todos falam e murmuram
Ninguém olha para si!

Quem me ouvir cantar
Julgará que a vida me corre
Eu sou como o passarinho
Também canta quando morre!



terça-feira, 3 de junho de 2008

Yves Saint-Laurent


Ontem, a notícia correu mundo: a morte de Yves Saint-Laurent. A França, na pessoa do seu Presidente da República, prestou homenagem a um dos seus maiores costureiros. E os meios de comunicação dedicaram-lhe também as suas emissões. Na TV5, um longo documentário no atelier de Yves: entre os seus colaboradores num misto de vida pública e privada, onde não faltava um cãozinho que, às tantas, dormia uma soneca.
Atelier num ambiente quase religioso. Rolos de tecidos, figurinos e colaboradores do Costureiro. Eles e elas quase não falam, em sussurro, giram em torno de uma elegante modelo que prova um vestido de noite, ou um casaco. Sentado à secretária, entre croquis, Yves fala pouco e fuma muito, bebe água e observa. Sempre atento, opina e prossegue o acto de criação, agora no corpo da modelo. É nesse campo de experiência que ajeitam tecidos, combinam cores, ensaiam drapeados, acertam decotes, sobem bainhas. Predomínio de cores suaves, estampados matizados, bordados em tom pérola e, sempre, um acentuado gosto pelo preto. Assim acontece nos tailleurs com originais blusas brancas.
E vai nascendo a obra... Feita em damascos, cetins, musselinas, lamés e o Mestre sorri com agrado, repetindo voilá, extraordinaire, c'est beau, ravissante e a linda modelo agradece sempre com um merci, monsieur.
Em todos os trabalhos, sobressai a elegância e feminilidade. Característica extensiva aos complementos: capelines, écharpes, laços, cintos, carteiras...Yves revolucionou a moda, sem retirar simplicidade e elegância. Ditou o uso das calças à mulher, e soube dar um toque de classe ao smoking preto para as grandes ocasiões!
Clientes famosas, princesas e artistas de cinema, foram clientes de Yves Saint-Laurent. Pela sua casa passou a fina flor da elegância dos últimos quarenta anos e, por isso, tornava-se pertinente interrogá-lo acerca do ideal de beleza feminina. E a resposta foi inesperada: um casaco preto, uma saia preta e, a seu lado, o homem da sua vida!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

"Futebol fora da realidade..."


Primeira observação, gosto de futebol. No entanto. o espaço noticioso dado à Selecção parece desmedido e, talvez, mesmo contraproducente para o resultado que se deseja! Ainda nem começou o Campeonato e a histeria futebolística avança a todo o vapor, esquecendo outros problemas...
Delicio-me com os dribles do mais famoso futebolista da actualidade. Adoro vê-lo jogar e tenho uma enorme simpatia por Cristiano Ronaldo que, há dias, confessava não saber quanto dinheiro tinha!...

Ora, a propósito deste imenso e inebriante poder económico do futebol, Luís de Freitas Lobo, jornalista desportivo, escrevia, no Expresso de sábado, uma crónica que intitulou: Mundos Paralelos. Transcrevo aqui.

Um vendedor de flores, um barbeiro, uma mulher pequena, um homem gordo, um jogador de basquetebol, um cantor de fado. Gosto de olhar o mundo como uma babilónia de personagens. Todas estas podem cruzar-se connosco a qualquer hora do dia. O futebol também é assim na sua democraticidade atlética. Jogam todos. Altos, baixos, lentos, magros ou um pouco gorditos. Mas as babilónias não são perfeitas. Os títulos das primeiras páginas de jornais explicam bem isso. E assustam. Um exemplo da semana: O Real Madrid oferece 82 mil euros por dia a Cristiano Ronaldo. Um título que coexiste ao lado de outro. A mãe de Tânia, a criança atropelada no Porto, vive com 550 euros por mês e não tem dinheiro para comprar os iogurtes indispensáveis na alimentação e evitar nova nova operação da menina. São dois "mundos" que coexistem no mesmo mundo. Pacificamente.
É perturbador. É como cair na "twilight zone". Claro que nem o futebol, nem Ronaldo muito menos, têm culpa desta babilónia absurda em que vivemos. Este futebol vive fora da realidade. Por isso, este simples contacto com ele causa alucinação. Como as cartas humanas que se movem loucamente em "Alice no País das Maravilhas" e o coelho que a quer levar para um poço. Não há forma de fugir deste choque de mundos. Esqueçam a racionalidade. Aqui é apenas o caos.

domingo, 1 de junho de 2008

Dia da Criança

Tantos são os dias de comemoração que, alguns tendem a cair no esquecimento. Não este, o Dia mundial da Criança!
Lá longe, na China, o dia que deveria ser assinalado com alegria, reflectiu-se nas palavras sentidas de muitas crianças, em luto pelas vítimas do terramoto. Estima-se em 6000 o número das crianças desaparecidas . É por elas que choram os pais que, tendo obedecido à "política do filho único", dificilmente poderão esquecer a perda dos seus meninos...

Em Portugal, apesar da crise, ainda estamos livres destas calamidades. Remetendo-me à efeméride, registo outros dias 1 de de Junho que comemorava com o Tiago, o meu primo mais novo, nascido em 1974. Às vezes, oferecia-lhe um livrinho, aproveitando a coincidência da Feira do Livro. E durante muitos anos, percorremos juntos o Parque Eduardo VII, olhando as novidades, aqui e aqui, parando a folhear este ou outro livro...
Hoje, que são outros os nossos timings, perdemos a companhia, mas não o hábito de trocar impressões sobre as últimas leituras. E, uma vez que que o Tiago já é pai , não tarda muito a vê-lo no Parque Eduardo VII a mostrar livros, muitos livros à sua Matilde. E, decerto, ela também vai gostar muito, tanto como o pai que, não sabendo ainda ler, passava as folhas dos albuns do Tio Patinhas e ria, ria sempre!...


Nota - A imagem escolhida reporta-se ao início da Revolução Industrial, ao tempo em que se desconhecia a personalidade da criança e os seus direitos...