sábado, 31 de maio de 2008

Juventude na década de 1950


















O Rock in Rio, que ontem começou em Lisboa, despertou-me para a década de 1950, o tempo da minha Instrução Primária e Liceu.
Começava a afirmar-se o rock, mas ainda assim que contraste com as imagens transmitidas pela Sic! Em todo o caso, escolhi a excepção: dois ícones dessa época, ambos marcados pela rebeldia e angústia que, depois, haveria de generalizar-se...
Estava-se ainda longe das grandes manifestações musicais como as do Parque da Bela Vista ou da Zambujeira. Então, os ídolos da música internacional chegavam a Portugal através do cinema, da rádio e, mais tarde, da televisão. Os espectáculos musicais, como então se dizia, escasseavam e, se aconteciam ficavam vedados à maioria das bolsas. O estudante com um orçamento baixo não podia lá chegar e, por outro lado, reduzido era também o número de estudantes!
Os comportamentos e atitudes traduziam o quadro sócio-económico do País, que contava uma classe média reduzida. E assim entre o atraso económico e a a resistência à mudança de mentalidades, a vida prosseguia sem grandes sobressaltos. Nas classes mais pobres os jovens entravam cedo no mercado de trabalho. E de maneira geral, fazia-se depender o casamento da existência de uma pequena poupança, o suficiente para montar casa. Era assim no campo e na cidade, porque "quem casa, quer casa", naturalmente, casa alugada.
De maior disponibilidade dispunha a juventude da alta burguesia. No entanto, tal não significava necessariamente esbanjamento. A sobriedade no estilo de vida constituía a norma geral, fosse pela educação inculcada no seio familiar, fosse pelos valores propagandeados pelo regime.
De modo geral, a juventude seguia os padrões conservadores, onde a educação e o respeito pelas instituições eram regra. Conservadorismo que se manifestava em todos os aspectos da vida social, a começar pela maneira de vestir: feminilidade e glamour da moda feminina que casava bem com o fato e gravata dos rapazes, um traje que, só raramente, trocavam pelo casual de camisa e pull-over. As saias compridas não conheciam a alternativa dos jeans e, na praia, usava-se fato de banho completo.
Do estrangeiro sopravam sinais de modernidade que causavam algum frisson, mas sem consequências. Os jovens de boas famílias assumiam o peso do nome e dos princípios de seus avós. As jovens de famílias ricas, em Portugal, seguiam um modelo que visava a preparação de boas esposas e boas mães e, por isso, o seu diploma académico não passava do 2º ano do Liceu. Embora continuassem a estudar, só frequentavam as aulas de cultura geral: línguas, história, geografia, pintura, piano e aquelas "prendas" de uma boa dona de casa (lavores e culinária). Para elas não havia exames!
Esses hábitos padronizados da alta burguesia coadunavam-se com a mentalidade retrógrada desse tempo; uma veleidade que, mais tarde, veio a ser paga por elas, esposas e mães, que não tinham sido preparadas para trabalhar.
E que dizer do casamento? Também aí vingava o conservadorismo, sendo a escolha limitada a um número reduzido de famílias. Casamento de conveniência havia muitos nessa época, preservando a junção de heranças: terras, negócios e carreiras. No entanto, a regra começava a quebrar-se, multiplicando-se as excepções de livre escolha...

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Noruega

Noruega, país do norte da Europa, terra de fiordes, de águas geladas e do bacalhau, assim vêem os os portugueses este país da Escandinávia.

Imagem redutora de um país que sabe conjugar a beleza natural com a riqueza de recursos e as preocupações ambientais. Com a sua história e encantos naturais, os norugueses criaram um espaço atraente para todos os gostos: a pesca, a montanha e a neve, os passeios pelas cidades ou aldeias com fascinante património.
Não admira a atracção que este país exerce sobre os jovens que aí procuram um pedaço do "paraíso perdido": ambiente natural e histórico que, com tanta desvelo, os noruegueses preservam. Para as gerações mais velhas, a Noruega permanece distante. Pouco se sabe do país, além dos recursos petrolíferos e piscatórios que permitem aos cidadãos usufruir de um dos mais elevados padrões de vida do Mundo...

A Noruega é uma das últimas monarquias da Europa que convive bem no quadro democrático parlamentar. Parece-me que o exercício da função régia ao serviço do País ficou demonstrado na visita que os Reis da Noruega acabaram de realizar a Portugal. Veja-se Harold V que, em nome dos interesse económicos, não recusou uma ida ao supermercado Continente do Centro Comercial Colombo, onde se vende a maior quantidade de bacalhau da Noruega!

Monarcas com "mentalidade burguesa", correspondendo aos apelos da nossa época de forma eficiente e directa. E já agora, registo um comentário da Rainha que, à despedida no Porto, elogiou o património da Cidade, não esquecendo a necessidade da sua conservação e, por isso, têm os portuenses "muito trabalho pela frente".
Pobre país o nosso que não sabe ou não pode conservar a sua História!

Carestia

Notícias de ontem, referem que o índice de confiança dos europeus caiu. Reflexo do ambiente depressivo que, por maioria de razão, os portugueses subscrevem. Processo global explicado por economistas e políticos que parecem concordar num ponto: os preços vão continuar a subir. Escalada de causas múltiplas que leva ao benefício de alguns e ao prejuízo das maiorias.
Identifica-se o fenómeno e reconhece-se a importância máxima do petróleo que sobe a preços inimagináveis. E todos nós aceitamos, naquela atitude conformista de que "é a globalização"! Mas por cá, as petrolíferas seguem o movimento altista de forma exemplar (alguma vez havíamos de ser pioneiros...), actualizando todos os dias, os preços para "inglês ver" e "português sofrer", digo eu.
A partir daqui, espera-se uma inflação em cascata e, naturalmente, a correspondente onda de contestação social. Hoje paralisaram os pescadores por tempo indeterminado...
Como habitualmente, à sexta-feira, almoço peixe fresco, saboreando um produto em vias de escassear à mesa dos portugueses. Visão pessimista e com algum misto de egoísmo que, no entanto, não significa nada de catastrófico. Olho sempre com esperança o futuro, lembrando outras crises e o modo como foram ultrapassadas.
O jornal Expresso, do último sábado, escalpelizava as crises do século XX, muitas e diferentes! A propósito da extensão vertiginosa da inflação, recordo a situação vivida no pós I Guerra Mundial na Alemanha. Relatos de clientes de um restaurante que, à saída do almoço, encontravam já um novo preço para a mesma ementa!
Permita-se-me mais uma referência: a crise de 1929 e os tempos de depressão que se seguiram. Foi a primeira grande crise, de facto, à escala global. Por toda a parte, deixou sofrimento e dor e a recuperação fez-se com base no "esforço nacional". Uma via errada que haveria de conduzir, em 1939, à II Guerra. Esperemos que os políticos, de hoje, tenham aprendido a lição da História e passem à discussão dos problemas à escala global!

Nota: A imagem escolhida representa os tempos difíceis da Grande Depressão, assunto que, talvez, devesse ser tratado nas escolas...nos tempos que correm.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Cascais



Dia 28 de Maio, visita da UTIL a Cascais. Objectivo: conhecer o Farol de Santa Marta, importante baluarte da costa portuguesa.

Foi muito agradável fazer a Marginal, de camioneta. A tarde ameaçava chuva, mas um Sol tímido deu-nos as boas-vindas, proporcionando-nos revisitar estes lugares que, em tempos passados, fazíamos todos os fins de semana, fosse Inverno ou Verão. Chamávamos-lhe o "passeio dos tristes", o que não correspondia à verdade, porque os jovens com tudo se divertem! Um simples passeio pelo Parque, um lanche nas Arcadas ou no Tamariz, uma ida ao Casino para jogar umas moeditas (poucas, 20 ou 30 escudos bastava) e, em certas ocasiões, uma noite na boite (hoje diz-se discoteca). Mas das boites nada resta, senão o espaço. E não só estas desapareceram; os antigos hotéis e restaurantes, onde estão?

Era nisto que pensava ao chegar a Cascais, uma terra piscatória e com um rico património histórico que, ao recusar o estatuto de cidade, soube manter a beleza calma e o porte aristocrático de uma vila acolhedora, conjugando passado com modernidade. Aí reside o encanto que lhe garante a preferência dos turistas estrangeiros e de todos nós...

Da visita ao Farol, que adorei, falarei mais tarde. Por hoje, permita-se-me mais uma nota. Refiro-me aos sinais de degradação que afectam muitas casas no percurso Lisboa-Cascais. É a crise, sabe-se, mas isso não me impede de sentir tristeza ao ver o estado de abandono e ruína em que caíram muitas das belas moradias de outrora! Algumas estão à venda. Não há quem as compre?

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Abrir um livro

Observe-se uma grande livraria ou visite-se a Feira do Livro. Frente a um expositor, pessoas de todas as idades e condições socio-culturais ficam alheadas de tudo, sentindo o prazer de abrir um livro. Passam folhas como quem saltita, aqui e ali, respigam um nome, uma palavra! Por curiosidade, gosto ou obrigação não resistem a esta "febre" de um primeiro contacto...

Mas houve tempo em que a abordagem à leitura se fazia de forma diferente, tal como diferente era a apresentação de um livro. Excluindo as belas encadernações dos clássicos e outras obras de referência, a maioria primava pela simplicidade. Talvez fosse a escassez de recursos técnicos e as dificuldades económicas a imporem sobriedade. Design discreto, geralmente, beige que, em diferentes tonalidades, jogava com o lettering preto; a entrada da cor e o uso da gravura ou da fotografia constituía caso raro.

Nesse tempo, o conteúdo sobrepunha-se à forma do livro que parecia conter um certo segredo a desvendar. Para isso havia que, literalmente, abrir o livro, entendendo como tal a separação das folhas que, tendo sido impressas e encadernadas, não tinham passado pela lâmina da guilhotina. Essa operação cabia ao leitor que, lenta e cuidadosamente, cortava as folhas e lia as primeiras palavras do seu livro novo...
Duas épocas, duas formas de estar e viver. Hoje, maior liberdade de manusear uma obra, consultá-la, proceder quase à sua leitura completa, sem custos. Enquanto, no passado, abrir um livro significava tomar posse não só de um bem físico, mas também imaterial.
Como se percebe, falo de livros novos e não de usados!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Crise

Crise, eis um tema habitual de conversa. Atrevo-me quase a dizer que este é o tema preferido dos portugueses. Em tudo vêem motivo de lamuria: economia, teatro, educação e....um nunca mais acabar de questões!
A economia impõe-se na ordem do dia. Ricos, pobres ou remediados, todos sem excepção, gostam de falar dos seus problemas e da carestia de vida, fazendo valer queixas e argumentos próprios do seu estado social. No entanto, a crise penaliza de forma e em grau diferentes e, por isso, tanto queixume soa mal e chega mesmo a ser objecto de chacota.

Foi o caso de um rico proprietário agrícola que costumava queixar-se de dificuldades económicas. Conhecia toda a gente na vila, gostava de passear pelas ruas, comprar o jornal e trocar dois dedos de conversa. Personalidade simpática e popular, de todos respeitado, mas isso não evitava que, à socapa, muitos rissem das suas lamurias. E um dia recebeu a resposta adequada. Repetindo as suas razões: subiam os combustíveis, os salários aumentavam exageradamente, enquanto os produtos mantinham os preços. "Onde é que isto vai parar? Quem podia aguentar tal estado de coisas?" E assim continuava, prevendo já a falência de muitos lavradores. O interlocutor, homem da classe média, ouviu tudo e, fingindo-se muito condoído, não se conteve:
- Oh, senhor D..., veja lá!...Não tenho muito, mas sempre se há-de arranjar qualquer coisa...De quanto precisa?
- Pelo amor de Deus, homem! A vida está difícil, mas sempre vai chegando...
Então, teria percebido como tudo é relativo!

terça-feira, 20 de maio de 2008

Ilhas de Bruma




Esta é uma das minhas músicas preferidas dos Açores! Aqui fica. Deliciem-se e digam se não tenho bom gosto...

Alerta



O 11 de Setembro de 2001 marcou o Mundo,como toda a gente diz e sente!
Gerou medo e desenvolveu em nós uma atitude alarmista contra o terrorismo. Guerra declarada contra qualquer suspeita: pessoas, coisas ou situações...E desse estado de alerta permanente (mais uma palavra de conotação militar), nasceu uma fobia que assumiu (e assume) casos verdadeiramente anedóticos. Aqui ficam alguns.

Nas imediações da Avenida de Roma, em Lisboa, foi chamada a Secção de Minas e Armadilhas para desactivar uma bomba-relógio. Era grande o susto dos moradores, já que o tique-taque continuava, esperando-se o rebentamento a toda a hora. E só se restabeleceu a calma depois de todas as diligências da polícia que acabou por concluir tratar-se de um brinquedo de corda que, por distracção, tinha ido parar ao contentor do lixo!

Outro caso, aconteceu na Escola onde trabalhava. Estalou o pânico devido a um saco suspeito em cima de uma mesa da Sala dos Professores, frente à porta. E tudo isto, porque ninguém reclamava a sua posse! Passaram horas até meio da manhã do dia seguinte, quando uma professora, alheada de tanto burburinho, veio declarar, com toda a naturalidade, ter-se esquecido das suas "ricas caixas de plástico". Grande risota e logo alguém, cognominou a H.M, "a Bombista"!

Última situação. Passou-se comigo. Ao sair, de manhã para comprar pão, deparei com um tambor mesmo em frente da porta. Comentei o assunto em casa e, mais intrigada fiquei, ao regressar, pela tardinha, e o dito tambor lá continuar ainda plantado! Já um pouco nervosa, chamei o porteiro. Como de costume, o bom do senhor Paulo, ainda que muito receoso, prontificou-se a retirar com cuidado o objecto suspeito. E no dia seguinte, esclarecia-me, rindo, ter sido a Joana a autora do incidente. A minha jovem vizinha, estudante de Arquitectura, participava, na altura, na organização de uma feira de artesanato, e com a pressa tinha perdido um tambor!

Tudo se quer com peso e medida. Mas isso não significa descuidar a vigilância...

domingo, 18 de maio de 2008

Alarme


Longe vão os tempos em que o alarme se resumia a sinais de fogo ou ao rufar de tambores.
Hoje, o alarme está em toda a parte e aceitamos a sua omnipresença como uma fatalidade. É esse o preço da crescente necessidade da segurança de pessoas e bens, mas não só. Entendo que a aceleração tecnológica das últimas décadas veio mergulhar a nossa vida na dependência do poder absoluto da electrónica. Aplica-se a tudo: alarmes, máquinas de qualquer tipo e função e , claro, às novas tecnologias da informação e comunicação. Como resistir, então, aos apelos do marketing que rapidamente sabe transformar um objecto de moda ou último modelo num produto de consumo?!.

De facto, um qualquer alarme avisa-nos todo o dia, a qualquer hora. Começa pela manhã o despertador ( e quantas novas formas de despertar existem, meu Deus!) e tudo o que segue. A campainha do micro-ondas, o clique da torradeira e o apito ou sinal luminoso de outros electrodomésticos. O trim-trim clássico do telefone ou uma qualquer música da nossa preferência que pode sempre alertar-nos num simpático tom crescendo... E que dizer do telemóvel? Tantos modelos e tantos operadores e há quem possua já dois (ou mesmo três telemóveis ) com diversas funcionalidades de alarme. Pois, este é o mais divulgado aparelho de consumo que já ninguém dispensa. Chama por várias formas, mas pode sempre recusar-se o contacto. Então, não é não para isso que servem os números e toques memorizados? Grava mensagens, avisa a existência de sms e lembram-nos ainda uma data "imperdoável" de esquecer ou assunto agendado e, tudo isso, através de toques diferenciados... Bendito telemóvel! Mas que tanta confusão pode também gerar com tantos sinais, tantas músicas e tantos códigos!

Alarme, uma listagem infindável. Campainha da porta, alarme de casa, alarme do carro e a diversidade de toques com que deparamos no local de trabalho e espaços públicos. E porque são tantos, cria-se o hábito e deixam já de ser ouvidos. É, pelo menos, isso o que dizem os alunos nas escolas ou os vizinhos de uma casa assaltada!....

Como seria bom voltar ao tempo de "poucos alarmes", quando quase tudo podia resumir-se aos sinos da torre da igreja ou à sirene dos bombeiros, dos farois ou das bases militares. Daí partia o chamamento "às armas" que é, afinal, o significado de alarme! Mas, infelizmente, os perigos multiplicaram-se. Assim, alarme, sempre!

Calafão


Devo uma explicação a todos que me lêem, porque não esclareci o significado de calafão, uma palavra nova no meu vocabulário. Foi-me apresentada pela L. que, pelas suas raízes açorianas, conhece bem as gentes e a cultura do arquipélago.
Por via das coisas fui ao Ciberdúvidas e aqui fica o esclarecimento: Calafão é um regionalismo açoriano, refere aquele que retorna ao arquipélago. "A par de calafona (feminino de calafão), existe califonho e califórnio, o que indica que estes termos se devem relacionar com Califórnia. Calafão e calafona serão, afinal, variantes de adaptação portuguesa da pronúncia americana da Califórnia". (A. Tavares Louro.)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Recordando



Este foi um sucesso de outros tempos! Convite para recordar...

Feira de Castro





É já tempo de feiras, embora os dias continuem pouco convidativos às compras no terreiro! Por agora, fiquemos com a evocação desses eventos estivais, por duas belas vozes...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Açores



Homenagem a todos os meus amigos dos Açores...e aos emigrantes de todos os tempos.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Novos privilegiados

Retrato de banqueiro francês, da família Périer que deu "vários políticos" à III República


Hoje, repesquei duas notícias. A posição da UE, ponderando a regulamentação dos elevados ordenados dos gestores. A segunda, respeita a um dirigente de uma ONG brasileira, Transparência, que, em Lisboa, acusou os políticos de serem os principais agentes de corrupção. Textualmente, disse: os partidos " entregam os cargos aos seus companheiros, verdadeiras quadrilhas que se instituem para assaltar os órgãos públicos". Referia-se ao Brasil, claro!!!
Sei que a História não se repete, mas há constantes que tornam aliciante o estudo da vida dos homens em sociedade. Por coincidência, recuei no último spot ao tempo da monarquia absoluta: Luís XIV, (o famoso Rei-Sol), e D. João V, Reis absolutos, mas não de poder ilimitado (como vulgarmente se pensa)!...
Apoiaram e apoiaram-se em privilegiados que chamaram à corte. Disciplinaram outros, votando-os à indiferença ou ao desterro. Numa palavra, souberam rodear-se de servidores fiéis e utilizar os meios possíveis para se fazer obedecer. Falo, por exemplo, do ouro.
Passou tempo, séculos: revoluções liberais, revoluções socialistas! Aperfeiçoaram-se as democracias! E outros privilegiados nasceram: banqueiros, burocratas, políticos....Em todos os regimes, um elemento comum: o dinheiro!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Poder absoluto


O Rei olhava à direita e à esquerda, ao levantar-se, ao deitar-se, às refeições, ao passar pelas salas e pelos jardins de Versalhes. Via e observava toda a gente, ninguém lhe escapava (...). Era um demérito, para os que ele distinguira, não fazer da Corte sua residência habitual; para outros, vir ali raramente e uma desgraça certa para quem nunca ali vinha. Quando lhe pedia alguma coisa para esses, respondia orgulhosamente: "É uma pessoa que nunca vejo!" E essas decisões eram irrevogáveis.
Saint Simon, Memórias (reinado de Luís IV)

D. João V (...) havia dito as nobres: "O rei D. João IV amava-os, D. Pedro temia-os, mas eu, que sou vosso amo de jure e herdade, não vos temo e só vos amarei consoante o vosso procedimento seja digno de duma tal mercê".
Merveilleux, Memórias Instrutivas sobre Portugal (1723-1726)

Rir

Sou muito emotiva. Por natureza, bem disposta, mas também perco a tramontana com facilidade. E aí sou terrível: fria e argumentativa, reclamo e barafusto. Penalizo-me por ser assim e, hoje, considero que, em determinados casos, o silêncio resulta mais.

Mas do que gosto é de rir. Dar uma boa gargalhada por uma anedota, um dito, uma gaffe. Tudo me faz rir: situações engraçadas pela surpresa, casos inéditos de estupidez e caricato, distracções...Casos passados com outros e comigo mesmo, porque o humor começa em nós!
Ensinaram-me que "muito riso, pouco siso" e por isso, lá fiz por aprender a controlar-me. Como toda a gente, já tive ataques de riso terríveis nos sítios e nas ocasiões mais inoportunas: numa aula, numa cerimónia e até num funeral. E porque o riso contagia, torna-se difícil disfarçar! Mas ai, como tudo parece ficar sem graça se revelarmos a causa...
Expressões como "chorar a rir", "partir-se de riso" ou "de morrer a rir" traduzem estes estados de alma que, nem sempre, são bem compreendidas pelas crianças. Há mais de trinta anos, um rapaz de 11/12 anos escreveu num teste que "Martim Moniz morreu a rir, entalado na porta do Castelo de S. Jorge" . Bem, nesse momento, quem riu, fui eu!
Um amigo, que me conhece bem, mandou-me, há muito tempo, uma fotocópia de um jornal médico, onde se enumeravam as vantagens do riso para a saúde. Totalmente de acordo! E essa nova terapêutica vingou entre nós. Hoje há "clubes de riso" e "equipas de actores cómicos" visitam os hospitais de crianças e os lares de idosos...
Por mim, continuo ainda a rir! Mas muito menos e, se não posso dar uma gargalhada, fico-me pelo sorriso... Um dia, aconselharam-me numa mensagem de telemóvel a "nunca esconder o meu sorriso" e eu cá vou tentando cumprir!...

domingo, 11 de maio de 2008

Racionamento


Nasci durante a II Guerra Mundial quando os Aliados procuravam uma solução para a paz, mas o conflito teimava em prolongar-se.
Cresci a ouvir falar em guerra e, só mais tarde, percebi que já era outra, a Guerra da Coreia (1950-53). Por isso, não posso lembrar-me das filas para o racionamento e dos carros a gasogénio...
Em todo o caso, os efeitos da guerra que causara morte e destruição, sofrimento e fome fizeram sentir-se na minha geração. E assim, fomos educados a respeitar os "meninos austríacos" que, ouvindo um barulho mais forte ou um avião, se escondiam. E fomos também habituados a comer tudo quanto nos era servido, porque havia meninos com fome! Já na escola primária, continuámos a manter a mesma atitude. Se porventura, deixássemos cair um pedacinho de pão, havia que dar sempre um beijinho e só depois lançá-lo no caixote.
Lembro-me que, em casa dos meus Avós, bebíamos tudo adoçado com mel ( o meu Avô era apicultor), mas a minha Avó armazenava pacotes de açúcar numa arca, comprados no mercado negro. Cada quilo custava a módica quantia de 20.00! E logo ela, que era tão poupada, dava-se àquele luxo, porque podiam vir tempos mais difíceis...
Memórias de outrora e que, talvez, devessem ser repensadas. Quando circunstâncias várias se conjugam para lançar, de novo, a ameaça de fome no mundo, como respondem os areópagos internacionais, como reagem à especulação?

Pentecostes


Domingo de Pentescostes, Missa das crianças, 11h 30m, Colégio de S. João de Brito.
É com espírito aberto e interessado que assisto a uma celebração dirigida às crianças, mas onde os adultos sempre retiram algo de válido para a vida e acrescentam os seus conhecimentos. Vê-se que o Padre Azevedo Mendes é professor e sabe captar a atenção dos alunos, ensinando-lhes sempre alguma coisa nova...
Hoje, a propósito da liturgia do dia, trouxe uma ventoínha que serviu para os meninos experimentarem o efeito do vento que não se vê, mas se sente...E ensinou como se diz vento em hebraico e em grego e, mais, esclareceu que a mesma palavra significa espírito. E assim todos aprendemos duas palavras novas, ruah e pneuma, em hebraico e grego, respectivamente.
Lição sobre o Espírito Santo, cuja presença nem sempre sentimos nas nossas vidas!

sábado, 10 de maio de 2008

Velhice

A morte é o nosso futuro. Se possível, também a velhice o é. (...)
Quando se é muito novo, a velhice é a dos outros. Quando se está a meio do caminho, a velhice começa a ser nossa e tudo ousamos para nos desviarmos dela e dos seus perigos. Quando se é velho, o espelho foge-nos da mão e não quer reflectir o que vê. Alguns velhos são loucos e sagazes. Por isso, a velhice é também a fonte onde se alimenta alguma da mais risível comédia humana.

Simone de Beauvoir, num sombrio livro sobre a Velhice, fala de um peso insuportável e afirma que ela é uma triste paródia da vida. Cícero, em De Senectude, aconselha, para a viver, uma mistura de apego e de renúncia à vida.La Rochefoucault lembra que os velhos gostam de dar bons conselhos para esconder que já não estão em estado de dar bons exemplos. E Vergílio Ferreira falava da velhice como do lugar de um grande confronto do homem consigo - com a memória, a liberdade, a finitude. (...)

Tenho amigos que para quem a velhice tem sido o encontro com um novo Eu: mais lento, mas mais sábio; mais prudente, mas mais atento. Outros, porém, enrolam os pés nela como numa passadeira rota: tropeçam, caem, partem o rosto. Como noutras situações, noutros riscos, noutros desafios,há quem saiba e quem não saiba fazer-lhe frente. (...)Sem os vermos, estamos cercados de idosos de sorriso triste e mãos frias a acusarem-nos. A sociedade do êxito e da competição trocou a experiência pela velocidade, a sabedoria pela pela informação, a visão pela imagem - divinizou a juventude e expulsou a velhice para os lares que cheiram a urina e a morte. (....)

Mas houve um mundo em que a velhice era a idade da atenção e da escuta. No nosso, é o tempo do esquecimento e do vazio. Agora, fazemos da longevidade a nossa mais apurada forma de crueldade. Quanto mais ela aumenta, maiores são a indiferença e o desprezo pelos que duram. Todos os dias sabemos histórias de crueldade e abandono que aterrorizam, mas calamos. Como sempre, há todas as explicações para elas. Diz-se: "A culpa é da vida. As pessoas têm de trabalhar e não podem tomar conta dos velhos." A culpa é da vida! E é de todos nós, que, diariamente, fazemos da vida o que ela é.

José Manuel dos Santos, Actual, Expresso, 10/05/08

Nota - Gostei tanto desta crónica que não resisti a fazer a transcrição de alguns excertos. Espero que o Autor não se importe!

De pequenino...




Lembrei-me de um velho provérbio "De pequenino se torce o pepino..."que tem sido muito glosado em educação. Veio isto a propósito de uma Avó babada que, no último fim de semana, me contou a última estória de uma das suas netas.

A Carminho, de quatro anos, é uma criança bonita e inteligente. A condição de mais velha (é a primeira de 3 irmãs) fez dela uma menina muito desenvolvida para a idade, atenta a tudo e sempre pronta a ajudar. Passou o último fim de semana em casa dos bisavós e aí encontrou a madrinha da avó, senhora com mais de 90 anos, que tem muita dificuldade em movimentar-se. A dada altura, a Carminho perguntou: " A Madrinha quer fazer chic-chi?". Face à recusa agradecida da madrinha, logo avisou: "Quando quiser, diga!"

A senhora registou a atenção e logo tratou de contar a gracinha! Exemplo para nós, adultos, mas que, por certo, corresponde ao exemplo dado lá em casa!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Figo



Da universalidade do futebol já ninguém duvida. Para isso muito contribuíu a globalização informativa que tudo sabe e publica da vida desportiva e pessoal destes heróis.
Não há fronteiras para a popularidade dos jogadores, treinadores e até clubes. Em Portugal, os mais velhos lembram, entre outras glórias, Pelé e Eusébio, nomes que os novos se habituaram também a venerar. Hoje, os heróis portugueses são outros e todos, sem excepção, reconhecem Figo e Cristiano.
Embora não entenda muito de futebol, habituei-me a olhar estes fenómenos com interesse, acompanhando o percurso dos "nossos" pelo mundo.
Recordo sempre Xanana Gusmão, preso na Indonésia, usando um boné do Benfica e, como todos os portugueses, comovi-me com Marcinus, o menino indonésio perdido depois do tsunami, que vestia a camisola da Selecção! Hoje fixei-me no nome de Figo, inscrito na camisola de um menino de escola, durante a visita a uma reserva animal na Austrália...
Observação casual nesta sexta-feira, após o almoço, ao ver na TV5 um programa muito interessante sobre a fauna da Austrália. Aqui fica o registo!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Campos pintados


Foi agradável a viagem de regresso a casa. Depois da incerteza do aparece e esconde, a Primavera assentou e deixa ver o seu rosto. Os campos associaram-se à moda deste Inverno-Verão, pintando-se de amarelo e roxo...

Que pintor poderia apreciar igualmente esta paisagem? Pensando bem, acabei por escolher Van Gogh... que nunca desdenhou tal colorido!

Myanmar


Birmânia, hoje Myanmar, situa-se no sul da Ásia. Longe da Europa em tempos passados (mas lá chegaram os portugueses no século XVI ), mas quando o longe "se fez perto", continua distante.
Myanmar está na ordem do dia. Uma violenta tempestade matou e destruíu o país, deixando o povo à míngua de tudo: água, alimento, casa e outros bens essenciais. Em tempo do imediatismo informativo, estranha-se a não existência de fotos da devastação. A edição do Diário de Notícias que trata o assunto, deixa-nos a reflectir sobre o poder da imagem.
Pela imagem sentimos emoção e é pela imagem (uma só vale mais do que cem palavras) que agimos. Esse o temor dos governantes, daí proibirem o olhar de estranhos...
Deste cenário de destruição, fica apenas o registo, porventura de uma avaliação em baixa: 22.000 mortos, mais de 40.000 desaparecidos (mero eufemismo de mortos?!), mais de 1.000.000 de desalojados. Números assustadores e, mais ainda, se transpostos para a dimensão de Portugal.
Seria qualquer coisa correspondente à morte da população total de alguns concelhos, contando-se como desalojados cerca de 1/10 da população portuguesa!

Dá para pensar a realidade dos números! E nós, não dispondo de imagens da catástrofe, esquecemos o sofrimento e a fome dos outros!


Blog, porquê?

Aderi com certa reserva à Blogsfera, pensando que muito raramente iria utilizar este espaço.Afinal, os assuntos fervilham e só a falta de tempo impede a escrita diária.

Aqui não existe aquele nervoso que sempre me assaltava ao falar em público. Não seca a garganta, nem tremem as mãos, porque a audiência está invisível na Net. Tudo acontece com naturalidade: a ponta dos dedos no teclado seguindo ao ritmo da inspiração do momento...
Bendito este meio de comunicação que mais parece uma nova forma de catarse. Ai! se os psiquiatras sabem disto!...

terça-feira, 6 de maio de 2008

Gosto de Malhoa



"Alguém que Deus já lá tem...", assim se canta no fado Malhoa...
Alguém que deixou o seu nome associado à vida boémia e fadista de Lisboa nos princípios do século XX: José Malhoa.

Cenas naturalistas de taberna com fado e bebedeira, mas o génio do Pintor não se esgota aí. A imagem remete-nos para outras experiências e temáticas...

Aos que me lêem, deixo o desafio, por que não uma visita ao Museu do Chiado ou às Caldas da Rainha, onde Malhoa deixou a marca do seu nome? Sigam o "conselho" e depois digam se valeu a pena!